Você tem 42 anos, gosta de rock e agora esta ouvindo uma música que nunca ouviu antes. O barulho que se faz em sua sala é intolerável, ou talvez o seu humor esteja tão ruim que você se despreza por ouvir, o que faz então qualquer coisa que seja mais auto que aquilo melhor. Ignorar o subconsciente dizer "mude, mude, mude" gera no sangue uma precaução propícia do caso. E realmente, a música é muito ruim. É brega e faz sentido, como a Sam costumava dizer. Deve fazer sentido. Eu não sei porque você gosta tanto dessa coleção, e nem porque aquela musica te faz bem. Na verdade não sei porque você tem instrumentos e não os toca. Seus amigos loucos não são tão loucos assim mais.
E não vejo graça em amigos normais... é monótono e faz você se afastar deles com o tempo, como você costumava fazer. Lembro de você em cima daquela arvore fazendo não sei o que, enquanto seus outros amigos anormais imitavam galinhas e animais que não existiam ao redor. Não que isso seja verdade, você nunca gosta de limpar a sua sujeira, por isso senta nela. Doom and gloom. Isso deveria fazer sentido, mas novamente, anda ocupada demais para isso. Eu não sei o que você anda fazendo da sua vida. Nem o que faz quando acorda ou se ainda acorda. Deve estar tão bêbada que dormir causa-lhe desconforto. Sua garganta deve queimar, e seus lábios pinicar. Isso é tão interessante. Não é ironia, veja lá. Você costumava ser um nada antes disso mesmo, ao menos agora você é um nada com julgamentos. E quem te olhar agora vai pensar em algo horrível que aconteceu em sua vida passada, só pra justificar o motivo disso tudo. Você esta sorrindo agora, e é tão tosco sua boca torta, seu cabelo de lado e seu jeito indecente. Vai, larga essa ferrugem velha, pega aquela garrafa de novo, faz o que você faz de melhor desde sempre, vá dançar, não tem ninguém te olhando mesmo. Depois você responde aquelas cartas, e escreve aquela para aquela pessoa que você só escreveu duas vezes. Eu vou com você, prometo.
Maria Sirijoli
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