Jaz um porto seguro.



Aquele jardim nunca foi só um jardim. Aquele lugar não abrigava só flores, gramas, terra e plantas. Ia além disso.
No outro lado... Aquele que tinha uvas, morangos e outras frutas e legumes. Verde. Era tão bom caminhar lá. Era tão bom correr e sentir aquele cheiro logo adiante. Aquele café que eu quase nunca bebia. Eu lembro do leite. E daquela TV antiga que tinha imagens falhas. Lembro daquele programa que eu odiava. E sabe, sinto falta de odiar ele. Daquele sofá que tinha um buraco no meio e uma manta jogada por cima para não afundar. Sinto falta de ver ela deitada naquela poltrona marrom de couro, logo ao lado da máquina de costurar que raras vezes era usada naqueles tempos. Aquela cadeira velha e enferrujada de balanço que abrigava minhas sinceras  brincadeiras, onde em parte do tempo era ocupada para que tecia crochês. Me lembro dos tapetes, e daquele banheiro amarelo com suportes para ajudar ela a usá-lo. Aquela cama cheia de histórias, que quando ninguém via, era o pula-pula de uma alma inocente. Eu sinto falta daquele lugar. Daquela penteadeira recheada de perfumes doces e cremes. Aqueles pentes pretos e espelho bem limpo. Imaginando sinto a macies e grossura daquele tapete grande e preto com manchas marrons. Me pego sentindo o gosto daquela sopa que só ela sabia fazer. E sinto aquele cheiro. Aquele corredor. Aquelas flores. Nunca vou esquecer daquelas rosas vermelhas. E nem daqueles copos de leite. Muito menos do pé de jabuticaba que eu quase nunca subia. Essa saudade me faz lembrar de como tudo aquilo era importante. É importante. E talvez meu maior receio seja não voltar mais lá. Não sentir aquele chão gelado nas costas daquela pequena varanda bem varrida.
A unica coisa que sei, é que o tempo passou e com eles as lembranças vão sumindo, aos poucos. E não quero esquecer. Não quero não lembrar.

Maria Sirijoli.

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